É dia de te ver. Resolvi ser casual. Não entendo a mania que os homens tem de querer mulheres com unhas pintadas a “Renda”, rasteirinha delicadas nos pés pintados a “Renda”, vestidinhos floridos, cabelos comportados, sorrisinho estampado: “não sou mais virgem mas posso fingir”.
Sim, foi assim que me fantasiei. Tava afim. A fim de fazer o típico papel – hoje posso te agradar. Sem dizer que animo para grandes produções não era o lema do meu dia. Tava afim de não estar afim, por puro desprazer mesmo. Não era falta de inspiração, era um querer não ser notada.
Me sentia tão leve naquele vestidinho florido estilo saída de praia, lembrando um momento “woodstock” que não vivi.
Tão romântico seria senão houvesse dito tudo que fiz pra chegar até esse ponto. A loucura do dia foi não ter que esperar muito pra que ele me buscasse.
Nossa, deve ser sorte que veio junto com o modelito “new age” virgem que incorporei.
Fui para a porta da rua. Passava caminhonete preta, roxa, azul cor céu, marrom burro fugido, mas na mensagem dizia que ele já estava a caminho. Eu só não esperava por aquela buzina baixinha do outro lado da avenida.
Só podia ser pra mim. A miopia às sete e meia da noite de um horário de verão, parece algo como cegueira parcial. Espremi meus olhos e pude ver um capacete balançar em minha direção. Era vermelho com preto... Era um capacete mesmo! Em cima de uma gigantesca moto e por trás de um capacete preto, havia ele fantasiado de motoqueiro fantasma. Aí que vontade sumir!
Por fração de segundo lembrei da imensidão do meu guarda roupa, de como eu poderia ter me fantasiado de motoqueira feliz e desencanada, com jaqueta de couro e bota de cano alto. Como não pensei na hipótese de ficar mais sensual, mais selvagem, afinal “Born to be Wild” toca no meu MP3.
Não, ali estava eu vestida de virgem. Era muita irônia para meu pouco sarcasmo.
Admiti. Uma admissão física. Sorri e caminhei até ele. Quando peguei o capacete já estava sorrindo sem graça, forçando meus 28 músculos do rosto e eles pesavam quilos! Ele estava tão animado com a surpresa que havia me feito. Cedi! Subi na moto, me agarrei a minha enorme bolsa rosa flúor, à seu tórax forte com uma outra mão, à garupa com a outra...eu criei tanta mão, que me sentia a própria “Shiva”. Realmente eu estava casta, como uma evangélica saindo de moto do culto. Pensei até em me sentar de ladinho.
De duas uma. Ou ele me ama ou até hoje esta rindo de mim. Tão autêntica tão perua, tão madura... Tão ridícula no meu jogo de sedução.
Foi um belo passeio de moto. Mostrou quem esta no comando tanto da moto quanto do relacionamento: O motoqueiro, claro!
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