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segunda-feira, 15 de março de 2010

Ontem eu chorei.



Ontem eu chorei.
Voltei pra casa, fui para o meu quarto, sentei na beira da cama. Chutei os sapatos, desabotoei o sutiã e caí no choro.
Quero que você saiba que eu chorei até meu nariz escorrer molhando a blusa de cetim que comprei na liquidação.
Chorei até minha cabeça doer tanto, que eu mal via a pilha de lenços de papel no chão aos meus pés.
Quero que você saiba que ontem eu chorei pra valer. Ontem, eu chorei por todos os dias em que estive ocupada demais, ou cansada demais, ou com raiva demais pra chorar.
Chorei por todas as vezes que desonrei, desrespeitei e desliguei meu Eu de mim mesma. Mas meu Eu se refletiu de volta pra mim quando os outros fizeram comigo as mesmas coisas que eu já fizera comigo mesma.
Chorei por todas as coisas que me foram roubadas, por todas as coisas que eu pedi e que não consegui receber, por todas as coisas que, depois de conquistar, eu dei a outras pessoas em circunstâncias que me deixaram vazia, gasta e exaurida.
Chorei porque realmente chega um momento em que a única coisa que nos resta é chorar.
Ontem, eu chorei.
Chorei, porque feri alguém. Chorei, porque fui ferida.
Chorei porque a ferida não tem pra onde ir senão até o mais fundo da dor que a causou, e quando chega lá a dor acorda você.
Chorei porque era tarde demais.
Chorei porque tinha chegado a hora.
Chorei porque minha alma sabia que eu não sabia que minha alma sabia tudo que eu precisava saber.
Chorei um choro espiritual ontem, e esse choro me fez muito bem. E me fez muito, muito mal.
Em meio ao meu choro, senti minha liberdade vindo, porque ontem, eu chorei sobre cada momento da minha vida.

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